Tema: O segundo chamado de Moisés (Ex 6,2-13)
Introdução
Neste encontro, estudaremos um dos textos mais bonitos de toda
tradição do êxodo do povo de Israel do Egito, o segundo chamado de Moisés em Ex
6,2-13. Trata-se de uma narrativa muito bem organizada que retoma temas
centrais da aliança que Deus fez com o seu povo.
Oração
Faça uma oração, clamando a presença do Espírito Santo, para
que o estudo desse encontro gere frutos de vida cristã. Leia Ex 6,2-13 e destaque
o que mais te chamou a atenção.
TEXTO PARA ESTUDO
Qual é o contexto literário do segundo chamado de Moisés?
A cena do segundo chamado ou vocação do líder do êxodo se
situa depois de uma progressão no processo narrativo cuja tensão atingiu o
ápice na reclamação dos escribas israelitas (Ex 5,19-21) e na oração sincera de
Moisés a Deus (Ex 5,22-6,1).
O contexto literário é de desespero. Nenhuma das palavras de
Moisés, Aarão e dos escribas israelitas serviram para apaziguar os trabalhos
forçados impostos pelo faraó do Egito. Ao contrário, a opressão aumentou.
Como se organiza a estrutura do texto de Ex 6,2-13?
Nesse momento, aparece a fala de Deus a Moisés, organizada
na seguinte estrutura literária:
A) v.2 a-c: Deus fala diretamente a Moisés
B) v.2d: “Eu sou o Senhor”
C) v.3-5: Retomada da aliança de Deus (verbos no passado)
A’) v.6 a-b: Deus ordena que Moisés fale aos israelitas
B’) v.6c: “Eu sou o Senhor”
C’) v.6d-8k: Promessas do cumprimento da aliança (verbos no
futuro)
B’’) v.8l: “Eu sou o Senhor”
A’) v.9 a-c: cumprimento da ordem - Moisés se dirigiu aos
israelitas
D) v.9d-g: Reação negativa dos israelitas
A’) v.10-11: Deus ordena que Moisés fale ao faraó
D) v.12: Reação negativa de Moisés
G) v.13: Deus falou diretamente a Moisés
Observe atentamente a estrutura e perceba os elementos
paralelos. Os autores da Bíblia utilizavam este tipo de organização do texto
muitas vezes, pois queriam apresentar suas ideias de modo claro aos
ouvintes-leitores.
Qual é a lição mais importante presente nos v.2-5?
No primeiro bloco, composto pelos versículos 2-5, Deus se
dirige a Moisés, retomando o tema da aliança feita com Abraão, Isaac e Jacó
(v.3). O autor utiliza todos os verbos no tempo passado: “apareci” (v.2),
“estabeleci” (v.4), “ouvi” e “lembrei” (v.5). O Senhor não se esqueceu de suas
promessas aos patriarcas (Gn 12,1-3; 15,1-21; 17,1-22) e agora atuará em vista
da libertação dos israelitas da casa da escravidão.
O que a utilização dos verbos no futuro ensina para nós?
Depois disso, os v.6-8 apresentam o conteúdo que Moisés deve
transmitir aos filhos de Israel. Trata-se, aqui, da reafirmação da promessa da
libertação; agora, com os verbos no futuro: “tirarei”, “livrarei”, “resgatarei”
(v.6), “tomarei”, “serei”, sabereis” (v.7), “farei entrar” e “darei” (v.8).
Assim, o autor quer enfatizar que o povo precisa olhar para frente com a
esperança de que o Senhor cumprirá tudo o que disse.
O que o autor quer mostrar, ao utilizar por três vezes a
expressão “Eu sou o Senhor/Javé”?
Outro dado que chama a atenção é a utilização, por três
vezes, da expressão “Eu sou o Senhor/Javé” (v.2.6.8), abrindo e fechando os
blocos de reafirmação da aliança (Ex 6,2-5.6-8). Essa fórmula aparece em textos
bíblicos dentro do contexto literário e teológico da afirmação da ação poderosa
de Deus e de sua soberania (Ex 14,18; 20,2; Gn 15,7; Is 42,8; 43,11.15; 44,6;
Jr 9,24; Ml 3,6).
Assim, o autor ressalta que o Deus soberano agirá
poderosamente para tirar o povo das opressões.
Por que o autor utiliza a expressão “ânsia do espírito”?
No v.9, Moisés se dirige aos israelitas que, por sua vez,
reagem negativamente, por causa da “ânsia do espírito” e da “dura escravidão”.
A expressão “ânsia do espírito”, na língua original, denota impaciência,
precipitação. Quando o termo hebraico “qetsar”, traduzido aqui por “ânsia”, é
utilizado como adjetivo, ele se constitui como uma qualidade negativa de quem
tem cólera e comete loucuras.
O autor, utilizando essa expressão, revela qual era o estado
de espírito dos israelitas com o aumento das opressões. Eles estavam ao ponto
de cometer loucuras. Estavam no seu limite.
O que significa a expressão “eu não sei falar com facilidade”,
utilizada como uma desculpa por parte de Moisés?
No final dessa narrativa, Deus ainda desafia Moisés,
ordenando-lhe ir até o faraó, de novo (Ex 6,10-11). A reação do líder israelita
é imediata. Ele não aceita e dá duas razões: a primeira, “se nem os israelitas
me ouviram, como o faraó ouvirá?”; a segunda, “eu não sei falar com facilidade”
(v.12).
A expressão “eu não sei falar com facilidade”, em hebraico,
literalmente, é “sou incircunciso de lábios”. Essa aparece apenas aqui e em Ex
6,30 e pode denotar que Moisés não sabia falar direito, talvez fosse gago ou
tivesse alguma incapacidade oratória (cf. Ex 4,10).
Deus, no v.13, não dá ouvidos às razões de Moisés e lhe
ordena, e também a Aarão, falar novamente aos israelitas e ao faraó! O Senhor
não escuta nossas desculpas. Ele nos envia mesmo com nossas dificuldades e
limitações.
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